O ministro do Comércio, Wang Wentao, foi o rosto desta ofensiva diplomática. Durante uma série de encontros à margem do China Development Forum, Wang deixou claro que “guerras comerciais não beneficiam ninguém” e que a estratégia da China passa por aprofundar colaborações, não bloqueá-las. A mensagem, embora revestida de formalidade, é um recado direto para os Estados Unidos.
A escolha de Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, como um dos interlocutores-chave não é inocente. A Qualcomm tem presença na China há quase 30 anos e ocupa uma posição estratégica no desenvolvimento de chips e inteligência artificial — dois setores que estão precisamente no epicentro das disputas tecnológicas sino-americanas.
Ao assegurar que o governo chinês quer “expandir o acesso ao país” e “ajudar empresas não-domésticas a integrarem-se melhor no mercado”, Wang está a oferecer algo raro: previsibilidade num clima global de incerteza. Amon respondeu em tom alinhado, reforçando o compromisso da Qualcomm com o mercado chinês e prometendo mais investimento local. É diplomacia económica em ação, com semiconductores como moeda de troca.
Apple, BMW e outros pesos pesados
Para além da Qualcomm, Wang reuniu-se também com Tim Cook (Apple), o chairman da BMW Group e líderes de multinacionais como a Cargill e a Temasek. A lista reforça a intenção da China de manter diálogo direto com líderes empresariais globais — mesmo quando as relações com os seus governos se tornam mais tensas.
No atual contexto, a abordagem tem lógica: enquanto os EUA apertam as restrições ao acesso chinês a tecnologia avançada, a China responde com a mão estendida — não por fraqueza, mas por cálculo. Empresas como Apple e Qualcomm têm demasiado a perder se forem forçadas a escolher um lado. A China sabe disso. E está a explorar esse ponto de fricção com eficácia.
A narrativa é conhecida, mas continua eficaz: a China quer negócios, não bloqueios. Quer chips, não sanções. E sabe que, apesar do ruído político, grande parte dos CEO no Ocidente estão mais interessados em quotas de mercado do que em rivalidades estratégicas.
Ao garantir que vai continuar a apoiar o investimento estrangeiro e facilitar a integração de multinacionais no mercado chinês, o governo de Xi Jinping está a tentar manter viva a corrente de capital, tecnologia e conhecimento que tem alimentado a sua transformação económica.
Esta ofensiva de charme não significa cedências em matérias estratégicas. A China continua firme nos seus objetivos industriais e tecnológicos. Mas mostra-se disposta a manter o canal aberto com quem quer — e pode — colaborar, mesmo que o ambiente político seja adverso.
A mensagem é simples: a guerra comercial pode continuar nos parlamentos, mas nos bastidores do investimento global, a China quer continuar a ser parte da solução. E para muitas empresas, isso basta.