Baidu solta o Gênio da Lâmpada: Ernie torna-se open-source na corrida da IA

Numa decisão contra si própria, a gigante chinesa Baidu anunciou que tornará o seu modelo de inteligência artificial de próxima geração, Ernie, open-source a partir de 30 de junho. A decisão marca uma reviravolta estratégica significativa para a empresa, que durante anos defendeu a natureza fechada dos seus sistemas de IA. A mudança ocorre num momento em que a concorrência no setor se intensifica, impulsionada pelo surgimento da startup DeepSeek.

A Baidu foi uma das primeiras grandes corporações chinesas a apostar fortemente em IA após o lançamento do ChatGPT da OpenAI em 2022. No entanto, a adoção do seu modelo linguístico, Ernie, tem sido aquém das expectativas. Apesar de a empresa afirmar que a versão atual, Ernie 4.0, é equiparável ao GPT-4 da OpenAI, os números contam uma história diferente:de acordo com dados de janeiro da AI product tracker Aicpb.com, o chatbot Doubao, da ByteDance, lidera com 78,6 milhões de utilizadores mensais, seguido pela DeepSeek com 33,7 milhões. O Ernie Bot, por sua vez, conta apenas com 13 milhões.

A decisão de Robin Li, CEO da Baidu, de abrir o código-fonte do Ernie reflete uma mudança pragmática. Durante um evento em Dubai esta semana, Li argumentou que o open-source poderá catalisar a adoção da tecnologia. “Se abrirmos as portas, muitas pessoas ficarão curiosas o suficiente para experimentar. Isso ajudará a disseminar a tecnologia muito mais rápido”, afirmou.

O timing desta reviravolta também não passa despercebido. A DeepSeek, que oferece modelos abertos comparáveis aos da OpenAI, mas a um custo operacional menor, tem vindo a ganhar terreno. Diante deste cenário, a Baidu também anunciou que tornará gratuito o seu chatbot Ernie Bot a partir de 1 de abril, mais de um ano após a introdução das versões premium.

Apesar do aparente novo compromisso com a abertura, a Baidu não abandonou a sua ambição de liderança no setor. Já há planos para o lançamento do Ernie 5 na segunda metade de 2025, o que sugere que a empresa está a recalibrar a sua estratégia, mas sem perder de vista a necessidade de manter uma posição competitiva no mercado chinês de IA.

A medida da Baidu é uma resposta direta à mudança de paradigma no setor. O open-source, outrora visto como um risco, tornou-se agora uma ferramenta estratégica. Se a aposta resultar, poderá revitalizar a posição da empresa. Caso contrário, poderá apenas confirmar que, num mercado dominado pela ByteDance e pela DeepSeek, a Baidu está a correr para recuperar terreno perdido.