No último dia 28 de abril, um apagão em grande escala afetou simultaneamente Espanha e Portugal, provocando uma deterioração crítica nas redes móveis de ambos os países. O evento, com impacto quase simultâneo em todas as operadoras, resultou em uma queda acelerada e sustentada no desempenho do serviço móvel à medida que as baterias de reserva das estações base se esgotavam, quando existiam.
A situação evidenciou a vulnerabilidade do ecossistema móvel face a falhas na rede elétrica, com consequências notáveis na qualidade do serviço e na conectividade básica.
Queda generalizada do desempenho móvel
Ao longo do dia 28 de abril, a percentagem de utilizadores móveis em Espanha com uma ligação de rede consistente (definida como velocidades mínimas de 5 Mbps de download e 1 Mbps de upload) diminuiu de 90% às 9h00 para um mínimo de 40% às 15h00. Em Portugal, a queda foi ainda mais acentuada, caindo dos 90% iniciais para menos de 40% às 14:00, com uma recuperação mais lenta do que a observada em território espanhol.
As velocidades médias de download móvel caíram 73% em Espanha e 75% em Portugal em comparação com o dia anterior, de acordo com dados da Speedtest Intelligence. As operadoras que apresentaram um melhor desempenho relativo durante a crise foram a Movistar e a Orange em Espanha e a Vodafone em Portugal, embora todas tenham registado uma perda significativa na qualidade do serviço.
Impacto geográfico desigual e dependência do fornecimento de energia elétrica
A gravidade do impacto não foi homogénea em todo o território. Em Espanha, as regiões costeiras do norte, mediterrâneas e do sul, bem como as zonas fronteiriças do nordeste, registaram as quedas mais acentuadas no desempenho, com quedas superiores a 85% na Comunidade Valenciana, Galiza, Andaluzia e Múrcia. No entanto, estas áreas foram também as que apresentaram uma recuperação mais rápida, em consonância com os progressos na restabelecimento do fornecimento de energia elétrica.
Em contrapartida, as regiões do centro da península, entre elas Castela e Leão, Castela-La Mancha e Madrid, sofreram um impacto mais moderado, com quedas próximas dos 60%. Em Portugal, o corredor atlântico entre Braga e Santarém registou quedas de até 90%, enquanto as regiões do interior sofreram impactos mais leves, possivelmente graças a medidas prévias de fortalecimento das infraestruturas aplicadas para prevenir danos causados por incêndios florestais.
Consequências diretas sobre a experiência do utilizador
As interrupções do serviço não se limitaram apenas a uma menor velocidade de ligação. Os dados recolhidos mostram um aumento substancial nos tempos de carregamento da web, uma queda na capacidade de reprodução de vídeo em Full HD e um aumento considerável da latência para serviços de jogos e fornecedores de nuvem. Em Espanha, o tempo médio de carregamento de páginas web aumentou mais de 20%, enquanto em Portugal aumentou mais de 27%.
Nas zonas onde havia alimentação de emergência, seja por baterias ou geradores fixos, observou-se uma maior continuidade do serviço. No entanto, a redistribuição do tráfego a partir de estações inativas e a substituição forçada das redes fixas por móveis agravaram a sobrecarga das infraestruturas ativas.
A falta total de acesso a serviços de dados, e mesmo a chamadas ou mensagens, deixou muitos utilizadores sem possibilidade de realizar testes de conectividade, o que se refletiu num aumento sem precedentes de tentativas falhadas na plataforma Speedtest. Esta situação também se verificou nos registos do Downdetector, que mostrou um primeiro pico de relatos no início do apagão, uma queda com o agravamento da rede e um novo aumento após a restauração parcial da energia elétrica.
Lições de resiliência e modelos regulatórios comparativos
O evento de 28 de abril evidenciou a escassa implementação de soluções de energia de reserva nas redes móveis de Espanha e Portugal, um fator determinante na magnitude do colapso. A experiência demonstra a necessidade urgente de reforçar a redundância na infraestrutura de telecomunicações, não apenas por meio de elementos técnicos, mas também por meio de políticas públicas proativas.
Países como a Noruega e a Finlândia introduziram regulamentações que obrigam a garantir um número mínimo de horas de serviço móvel após uma falha de energia, uma medida que se mostrou eficaz. Da mesma forma, a Austrália financiou a modernização de mais de 460 estações base com capacidade de energia de reserva de até 12 horas. Estas iniciativas demonstram que existem modelos regulatórios e tecnológicos viáveis para fortalecer a continuidade operacional das redes móveis diante de eventos críticos.