A Web3 representa a próxima evolução da Internet, prometendo um ecossistema digital descentralizado baseado na tecnologia blockchain. Ao contrário da sua antecessora, a Web2, dominada pelos gigantes tecnológicos que controlam os dados dos utilizadores e as interações digitais, a Web3 prevê um mundo em que os utilizadores são proprietários dos seus ativos e dados digitais através da tecnologia descentralizada da Blockchain.
A tecnologia central combina redes peer-to-peer, criptografia e mecanismos de consenso para criar sistemas confiantes. Os contratos inteligentes, ou smart contract, são programas autoexecutáveis armazenados na blockchain, permitem transações automatizadas e transparentes sem intermediários. E as criptomoedas e tokens servem como mecanismos nativos de pagamento e incentivo.
Para as empresas, a Web3 oferece vantagens atraentes: custos operacionais reduzidos através de processos automatizados, maior segurança através de registros imutáveis e novos fluxos de receitas através da tokenização de ativos. Desde o setor financeiro até o de logística, já se beneficiam da transparência e eficácia proporcionada pela Web3.
A sociedade também tem a ganhar com a democratização dos recursos digitais da Web3. Os utilizadores podem rentabilizar diretamente os seus dados e conteúdos criativos, participar na governança descentralizada através de DAOs (Organizações Autónomas Descentralizadas) e aceder a serviços financeiros sem a infraestrutura bancária tradicional.
No entanto, persistem desafios significativos. A escalabilidade continua a ser um obstáculo técnico, com muitas redes de blockchain a terem dificuldades em lidar com elevados volumes de transações. A incerteza regulamentar cria riscos comerciais, enquanto as vulnerabilidades de segurança levaram a hacks dispendiosos. A complexidade da tecnologia também coloca barreiras à sua adoção pelos utilizadores comuns.
Na recente conferência “Perspectivas em Web3 e Blockchain”, realizada no IPAM de Lisboa, estes temas dominaram os debates. O encontro de investigadores, profissionais e programadores forneceu conhecimentos relevantes sobre a forma como a indústria está a enfrentar estes desafios e a fazer avançar esta tecnologia disruptiva.
A comunidade de investigadores destacou o impacto transformador da Blockchain no marketing e no comportamento dos consumidores, realçando a transparência e o envolvimento da comunidade como fatores-chave. Os profissionais do setor apresentaram implementações bem-sucedidas, reconhecendo os obstáculos regulatórios.
A sessão destinada aos programadores centrou-se em preocupações de segurança e limitações técnicas, embora o crescente ecossistema de ferramentas de desenvolvimento sugira um conjunto de tecnologias em amadurecimento. O surgimento de Portugal como um polo de blockchain adicionava uma nova dimensão, com um ambiente regulatório favorável que permitiria o desenvolvimento diversificado de projetos Web3. Nesse contexto, destaca-se o projeto QuoVadisWeb3, que contribuiu significativamente ao mapear os principais stakeholders do setor Web3 em Portugal, fortalecendo a compreensão e a conexão entre os diversos atores envolvidos.
A conferência no IPAM de Lisboa revelou que, embora o potencial da Web3 para revolucionar as interações digitais continue a ser convincente, o caminho para uma adoção generalizada exige a resolução de desafios fundamentais em matéria de segurança, escalabilidade e regulamentação. O otimismo dos participantes foi temperado por um reconhecimento crescente de que a concretização da promessa da Web3 exige mais do que inovação técnica – exige soluções práticas para problemas do mundo real.
À medida que avançamos, a questão-chave não é se a Web3 irá transformar as indústrias, mas sim a rapidez com que essas transformações ocorrerão e a forma que assumirão. É possível que as respostas venham de ambientes como as universidades, onde a promessa teórica da blockchain se cruza com as realidades concretas da implementação.
Participantes na conferência “Perspetivas em Web3 & Blockchain”: Silvia Teixeira (Nova SBE, Nova Blockchain Club); Joana Pereira (Nova IMS); Ronnie Figueiredo (IPAM, Nova SBE); José Reis Santos (QuoVadisWeb3); João Domingues (Axians Portugal); Miguel Nascimento (Hesty); Ivo Valente (Six-Factor); Guido Santos (genesis.studio); João Moreira (Mystic Finance)
Ricardo Abreu é Docente no IPAM Lisboa