“Não existe nada de permanente a não ser a mudança”
Heráclito de Éfeso – Filósofo Grego
Se esta frase era verdade na antiga Grécia, o que dizer dos nossos dias, onde a globalização e as evoluções tecnológicas aceleraram, e muito, as mudanças sociais e económicas? Neste contexto, o desafio é equilibrar um contexto global, que está a mudar rapidamente, com um rumo estratégico para o nosso país. A nível tecnológico e econômico as oportunidades surgem abundantes e rápidas, e os países competem pela vanguarda na inovação. É, portanto, urgente o desenvolvimento de uma estratégia para que Portugal não perca as oportunidades que advêm do novo mundo que se nos apresenta. Para tal é importante contextualizar os debates globais, na situação única de Portugal, considerando a sua posição geográfica, o seu enorme potencial de atratividade, decorrente de fatores como a segurança e garantias de estabilidade, e da sua mão de obra casa vez mais qualificada que importa não desperdiçar. É também necessário encetar conversas com empresas, políticos e líderes especialistas em tecnologias de vanguarda, em particular na inteligência artificial, de todo o mundo, entender o que eles procuram no momento de decidir com quem trabalhar e onde trabalhar e criar essas condições em Portugal. A força está em combinar uma visão forte, com envolvimento ativo – investimento, legislação e projetos piloto – para a inovação tecnológica. A implementação de tal estratégia deverá ser um esforço de cooperação de múltiplas partes interessadas: de entidades locais e regionais, ao sector privado, a universidades e ao próprio estado.
O objetivo deverá ser, Portugal construir uma economia assente em novas tecnologias e inteligência artificial e não esperar pelo momento em que seja obrigado a tal, devido ao contexto mundial.
Como objetivos estratégicos específicos devem considerar-se como pontos de partida: a construção de uma reputação como destino de inovação tecnologia, da qual a web summit é um bom exemplo, mas está longe de ser suficiente; o aumento da competitividade e a eficácia em sectores prioritários através da implantação de novas tecnologias; a manutenção e atração e dos melhores talentos em investigação, a nível mundial, para trabalhar com indústrias-alvo.
Uma forte Estratégia Nacional de Modernização Tecnológica pode contribuir significativamente para a melhoria de setores como a indústria e a energia, mas também a educação, a saúde e a eficiência das instituições publicas. Na saúde, por exemplo, uma verdadeira transição para uma aposta na medicina preventiva não pode descurar a inteligência artificial e as novas tecnologias: estudos genéticos poderão prever atempadamente os riscos associados a determinadas doenças e a saúde digital poderá trazer enormes ganhos em acesso e qualidade a cuidados de saúde, com efetiva redução de custos. O fornecimento de energia e água também são áreas que muito podem beneficiar da inovação tecnológica: desde redes inteligentes para a reciclagem da água, a apoios a pequenas e médias empresas na transição energética. As novas tecnologias também podem ser usadas para melhorar a experiência e custos nos serviços públicos: menores tempos de espera para resolução de questões administrativas, menos erros e formas mais convenientes de interagir com o estado, facilitando o cumprimento das obrigações dos cidadãos e automatizando muitas das questões burocráticas.
Portugal precisa de revelar uma base sólida e uma boa capacidade de adaptação a novas e emergentes tecnologias. Deverá funcionar como um íman que mantem e atrai os melhores talentos do mundo para conduzir os seus projetos tecnológicos e abrir as portas para implementações práticas nos diferentes setores.
José Rui Gomes é Presidente da Associação Portuguesa de Business Intelligence