A influência estrangeira nas eleições dos EUA e as táticas digitais

Num o cenário de um crescente campo de batalha digital, com o uso de tecnologias sofisticadas como a Inteligência Artificial (IA) e deepfakes a tornarem-se as principais armas de desinformação.
5 de Novembro, 2024

No mais recente relatório do Microsoft Threat Analysis Center (MTAC), a Microsoft revelou uma realidade alarmante: Rússia, Irão e China terão intensificado os seus esforços para influenciar as eleições presidenciais dos EUA, num o cenário de um crescente campo de batalha digital, com o uso de tecnologias sofisticadas como a Inteligência Artificial (IA) e deepfakes a tornarem-se as principais armas de desinformação, como pudemos constatar no decorrer dos últimos dias.

Intensificação das ameaças e a corrida à manipulação

A análise do MTAC destaca como as operações de influência destas nações estão a tornar-se mais ousadas e tecnologicamente avançadas à medida que o processo eleitoral americano se foi aproximando. Este não é um fenómeno novo; no entanto, o grau de sofisticação, impulsionado pela utilização de IA, marca uma nova era de ameaças digitais.

Rússia: A máquina de deepfakes em movimento

A Rússia continua a ser um dos principais protagonistas nesta guerra de informação. A campanha de desinformação russa parece focada na candidatura democrata de Kamala Harris, que, juntamente com Tim Walz, enfrenta um ataque orquestrado de vídeos deepfake. Estes vídeos falsos, que retrataram Kamala Harris a fazer comentários depreciativos sobre Donald Trump ou a envolver-se em alegados atos de caça ilegal na Zâmbia, são um exemplo de como as tecnologias de IA são utilizadas para minar a confiança pública. Um vídeo específico, disseminado por um grupo designado Storm-1516, obteve mais de 5 milhões de visualizações no X (anteriormente Twitter) em apenas 24 horas, demonstrando a rapidez e eficácia com que estas campanhas podem espalhar desinformação.

Os deepfakes, que têm evoluído com a ajuda de redes de IA generativa, representam um desafio sem precedentes. As imagens e vídeos manipulados não só parecem convincentes como são rapidamente disseminados, atingindo milhões antes que as correções possam ser amplamente conhecidas. Esta técnica insidiosa é particularmente perigosa num ambiente político já polarizado, onde rumores visuais têm o potencial de alimentar divisões.

Irão: Manipulação através de questões sensíveis

O Irão, por seu lado, continua a explorar tensões sociais nos EUA, uma tática frequentemente eficaz para semear discórdia. O MTAC destacou as operações de influência iranianas disfarçadas sob o nome de “Bushnell’s Men,” um grupo que apela ao boicote das eleições devido ao apoio dos candidatos americanos a Israel. Ao utilizar questões como o conflito no Médio Oriente, o Irão procura galvanizar setores específicos da sociedade americana, como estudantes universitários, contra o processo democrático.

O uso de narrativas polarizadoras e de apelos emocionalmente carregados é uma estratégia bem documentada para gerar fraturas sociais. O facto de o Irão recorrer repetidamente a estas táticas é um sinal de que, apesar das sanções e tensões regionais, continua focado em expandir a sua esfera de influência na política americana.

China: Influência silenciosa mas persistente

A China, embora utilize abordagens mais subtis, mantém uma presença preocupante no panorama de interferência estrangeira. O alvo principal são os candidatos republicanos e membros do Congresso que advogam políticas desfavoráveis a Pequim. As campanhas chinesas incluem mensagens que amplificam acusações de corrupção e reforçam narrativas antissemitas, focando-se especialmente em figuras como o Deputado Barry Moore e a Senadora Marsha Blackburn. A insistência em promover estas narrativas, mesmo quando o envolvimento público é relativamente baixo, revela uma estratégia de longo prazo que visa erodir a resistência política contra a China.

A estratégia da China é mais estrutural e abrangente. Ao contrário das campanhas russas baseadas em choques rápidos e sensacionalismo, as táticas chinesas parecem focar-se na criação de um ambiente favorável a Pequim a médio e longo prazo, o que pode ter consequências mais duradouras.

IA e Deepfakes: Uma nova dimensão de ameaça

O relatório da Microsoft salienta um ponto crucial: a velocidade com que estas novas tecnologias podem difundir desinformação é exponencial. Em momentos de crise, como eleições ou conflitos internacionais, as imagens e vídeos manipulados não só viajam mais rapidamente, como têm um impacto amplificado. Os algoritmos das redes sociais, concebidos para maximizar o envolvimento, são uma ferramenta poderosa para estes atores maliciosos, ajudando a espalhar conteúdos falsos antes que possam ser desacreditados.

A utilização de IA para criar deepfakes levanta questões éticas e de segurança que exigem uma resposta rápida. Sem uma ação coordenada, tanto por parte de empresas de tecnologia como de governos, estas táticas podem minar ainda mais a confiança no processo democrático e criar um ambiente de caos informativo.

A necessidade de vigilância

O que se destaca no relatório do MTAC não é apenas a criatividade com que estas potências estrangeiras estão a usar a tecnologia, mas também a persistência das suas estratégias. A Microsoft, ao expor estas campanhas, coloca um foco sobre a vulnerabilidade da democracia americana a manipulações digitais sofisticadas.

Com o caminho eleitoral chegado ao fim, fica clara a necessidade de sensibilização, educação e preparação ainda mais premente. A desinformação é agora uma guerra em constante evolução, e tanto a sociedade civil como as autoridades devem permanecer vigilantes. Esta batalha digital não se trava apenas hoje nas urnas, mas também nas redes sociais e nos ecrãs de milhões de eleitores americanos, repetidamente mesmo após o ato eleitora e seja qual for o resultado.

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