À medida que o mundo ainda explora as possibilidades da tecnologia 5G, o futuro da conectividade móvel já começa a tomar forma com o desenvolvimento do 6G. A União Internacional de Telecomunicações (ITU) divulgou o quadro de visão para o 6G, e a padronização desta tecnologia será iniciada em 2025 pelo 3GPP (3rd Generation Partnership Project). Contudo, como afirmou Tong Wen, Huawei Wireless CTO, numa conferencia em Istambul, no passado dia 24 de setembro, “o 6G não é uma simples evolução do 5G; trata-se de uma verdadeira disrupção tecnológica intergeracional.”
De acordo com Tong Wen, o 6G deve ser redefinido com base nos cenários de aplicação e requisitos que vão de 2030 até 2040, e não simplesmente reutilizar a arquitetura da rede 5G. A tecnologia precisa abraçar a revolução da Inteligência Artificial (IA) e provocar um salto quântico no modo como redes e dispositivos se comportam. É uma visão que desafia a indústria a repensar por completo a infraestrutura que atualmente suporta o ecossistema móvel.
O 5G, por mais avançado que seja, foi concebido para sustentar a explosão da conectividade móvel em termos de velocidade e capacidade. No entanto, segundo Tong, reutilizar o núcleo das redes 5G para o 6G limitaria a inovação. A arquitetura do 6G deve romper com o modelo atual, adotando uma rede orientada por aplicações e capaz de suportar tecnologias emergentes como a IA “Agentic”, sensores avançados e Redes Não Terrestres (NTN), preparando o terreno para um futuro muito mais interligado e inteligente.
A revolução do 6G será impulsionada pela IA de forma inédita. Se o surgimento da internet foi o catalisador para as comunicações móveis modernas, a IA promete ser o próximo grande enabler, transformando a maneira como redes e dispositivos interagem. E não falamos apenas de IA gerativa, como a que hoje conhecemos. A visão para o 6G inclui Inteligência Artificial Geral (AGI) e “Embodied AI”, conceitos que integram a capacidade de sensoriamento, raciocínio, decisão e ação de forma holística, impactando não só os dispositivos e redes, mas todo o núcleo das futuras infraestruturas de telecomunicações.
O salto quântico em IA terá impacto direto nas capacidades dos dispositivos móveis. Segundo Tong, os dispositivos 6G precisam de uma verdadeira transformação para suportar a era “Full-AI”. Os smartphones, que hoje se aproximam cada vez mais de terminais inteligentes, deverão evoluir para plataformas de IA que transcendem a atual computação móvel. A sinergia entre redes e dispositivos será fundamental para impulsionar a indústria, não apenas satisfazendo as necessidades dos consumidores, mas também revolucionando indústrias verticais que dependem de conectividade de alta performance.
No âmago do 6G, está a necessidade de uma nova abordagem arquitetónica. O modelo de rede baseado em serviços, típico das gerações anteriores, deve ser substituído por uma rede orientada por aplicações. O 6G não deve apenas ser mais rápido e mais eficiente, mas também deverá integrar funcionalidades avançadas como deteção de ambientes, computação distribuída e suporte para IA em todos os níveis da infraestrutura.
Esta transição representará um marco na forma como as telecomunicações servem a sociedade. De 2030 a 2040, o 6G não será apenas uma ferramenta de comunicação, mas um facilitador para a evolução de cidades inteligentes, veículos autónomos, medicina avançada e, talvez mais importante, um motor da inovação contínua na IA.
À medida que o 5G continua a expandir-se globalmente, evoluindo para o 5G-Advanced, o 6G promete quebrar paradigmas e abrir portas para um futuro de inovação radical. Tong é enfático ao afirmar que as tecnologias do 6G não devem sobrepor-se ao 5G, mas sim complementar e expandir os horizontes da conectividade. A verdadeira disrupção tecnológica vai acontecer, não com uma simples melhoria incremental, mas com uma reconfiguração completa da infraestrutura e dos dispositivos.
A ambição de criar um 6G orientado por IA, capaz de transformar a maneira como interagimos com o mundo digital e físico, posiciona esta tecnologia como uma pedra angular do futuro. Ao acolher a IA em toda a sua complexidade e potencial, o 6G não só atenderá às necessidades dos consumidores e da indústria, mas também preparará o terreno para as inovações que, por enquanto, ainda nem conseguimos imaginar.
O 6G promete não ser apenas o próximo passo, mas um salto exponencial em direção a uma nova era de conectividade e inteligência distribuída.