A transformação digital no setor financeiro entrou numa nova fase. De acordo com o relatório Ascendant, da Minsait, 59% das empresas do setor bancário já utilizam inteligência artificial (IA), uma percentagem que ilustra a rápida adoção desta tecnologia como alavanca para inovação e eficiência. O relatório, intitulado AI: raio-x de uma revolução em curso, analisa a implementação de IA em mais de 900 organizações, incluindo instituições financeiras e seguradoras, e revela tendências que estão a redefinir os modelos de negócio tradicionais.
A gestão de risco e a cibersegurança emergem como as principais prioridades para nove em cada dez empresas do setor financeiro. Estas instituições têm apostado sobretudo em soluções de terceiros, enquanto trabalham também para otimizar operações internas, como backoffice e processamento de transações.
Para 53% das empresas analisadas, a experiência do cliente e dos utilizadores internos é uma motivação central para a adoção de IA. A capacidade de responder de forma mais rápida, precisa e personalizada tornou-se indispensável num setor que enfrenta uma crescente pressão para inovar face a desafios económicos, como a inflação e as mudanças nos padrões de consumo.
Miguel Simões, Diretor de Serviços Financeiros da Minsait em Portugal, sublinha que a inteligência artificial não é apenas uma ferramenta, mas “um recurso crucial para modernizar os modelos de negócio, proporcionando eficiência e personalização de forma extremamente rápida”.
Dados: O combustível da inteligência artificial
O acesso e a análise de dados são os pilares da aplicação de IA. O relatório revela que quase metade das entidades já possuem capacidade para captar dados em tempo real, enquanto 27% conseguem lidar com dados não estruturados, como imagens e texto livre. Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer: em 55% das empresas, a recolha de dados ocorre de forma tardia ou pouco eficiente, limitando o potencial da IA.
Apesar das lacunas, 90% das organizações utilizam a IA para identificar padrões e tirar conclusões a partir dos dados recolhidos. Ainda assim, a intervenção humana continua a desempenhar um papel significativo na aplicação de modelos de IA, demonstrando que o equilíbrio entre automação e supervisão humana permanece fundamental.
Barreiras à transformação
Embora a adoção da inteligência artificial esteja em ascensão, o relatório Ascendant aponta diversos obstáculos que atrasam a sua implementação. Entre eles, destacam-se a falta de recursos internos especializados, a qualidade insuficiente dos dados, a ausência de uma governance robusta e, sobretudo, a resistência cultural à mudança.
Estas barreiras não são exclusivas do setor financeiro, mas a sua superação é especialmente crítica num mercado altamente competitivo. A adoção de IA não é apenas uma questão de modernização, mas também de sobrevivência para muitas instituições, que precisam de justificar rapidamente o retorno sobre o investimento em tecnologias emergentes.
O impacto na tomada de decisão
Para oito em cada dez organizações, a eficiência dos processos internos é a principal motivação para adotar IA. Contudo, outro fator emerge como essencial: a capacidade de melhorar a tomada de decisão baseada em dados. A IA permite não apenas prever tendências, mas também agir de forma mais informada e estratégica.
O relatório destaca ainda que mais de metade das empresas já possuem um plano de negócios claro para integrar IA nas suas operações, um sinal de que esta tecnologia está a passar de uma ideia abstrata para uma ferramenta prática e mensurável.
O futuro: IA como motor da competitividade
O setor bancário encontra-se numa encruzilhada. À medida que a concorrência aumenta e os consumidores exigem experiências mais personalizadas, a IA promete ser o motor que impulsiona a competitividade e redefine as operações.
No entanto, como conclui o relatório, o sucesso da transformação digital não depende apenas da tecnologia, mas também da capacidade das organizações de se adaptarem cultural e estrategicamente. O impacto da IA será tão profundo quanto a disposição das empresas para abraçar a mudança e liderar na nova era da inteligência artificial.