2ª Série #3: Com Manuel Dias, Microsoft Portugal e Paulo Novais, Universidade do Minho

A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa distante para se tornar o centro das atenções em 2024. No mais recente episódio do podcast Dados à Conversa, dois especialistas, Manuel Dias, da Microsoft Portugal, e Paulo Novais, da Universidade do Minho, refletem sobre um ano de consolidação tecnológica e projetam os investimentos, desafios e transformações que a IA trará em 2025.
15 de Janeiro, 2025

Esta semana o “Dados à Conversa” oferece-nos uma lente sofisticada para analisar o impacto transformador da inteligência artificial (IA). Neste episódio Helder Quintela, trouxe-nos dois especialistas para refletir sobre o tumultuoso ano de 2024 e especular sobre o futuro imediato da IA. Manuel Dias, Diretor Nacional de Tecnologia da Microsoft Portugal, e Paulo Novais, Professor Catedrático da Universidade do Minho, compartilham insights que vão além do óbvio, revelando os desafios, as conquistas e as lições de um ano que consolidou a presença da IA em praticamente todas as esferas.

2024: Um Ano de Consolidação

“Foi um ano de sofisticação e adoção em escala,” observou Manuel Dias. Segundo o executivo da Microsoft, 2024 marcou a transição da experimentação para a execução de projetos mais elaborados, particularmente no uso de IA generativa. Inicialmente limitadas a chatbots e modelos linguísticos, as soluções evoluíram para automatizar processos de negócio e introduzir agentes inteligentes. A adoção massiva de ferramentas como o Microsoft Copilot no segundo semestre do ano demonstrou que as organizações começaram a integrar a IA em suas operações de forma escalável e eficiente.

Manuel Dias enfatizou que a consolidação da IA nas empresas não se deu sem dificuldades. “As organizações começaram a perceber que não basta implementar tecnologia; é preciso garantir que as pessoas estão preparadas, com competências que vão desde o entendimento dos conceitos básicos até a habilidade de criar prompts eficazes.”

Competências e Dados: Os Alicerces da Transformação


O desafio de competências foi ecoado por Paulo Novais, que, falando da perspetiva académica, destacou que muitas organizações ainda confundem digitalização com transformação digital. “Digitalizar processos não é suficiente,” afirmou Novais. “Falta qualidade nos dados. Sem dados relevantes e bem estruturados, a IA não alcançará o seu pleno potencial.”

Paulo Novais alertou para a importância de conscientizar as organizações sobre a necessidade de investir em projetos de governança e qualidade de dados. Utilizou uma metáfora gastronómica para ilustrar o ponto: “Ter ovos de má qualidade não resulta em boas omeletes, e o mesmo se aplica aos dados para IA.”

O professor catedrático reconhece os avanços na infraestrutura tecnológica e na criação de competências em Portugal, destacando o papel de iniciativas académicas e governamentais em fomentar a adoção da IA.

O Equilíbrio entre Fundamentos e Inovação

Para muitas empresas, 2024 foi um ano de aprendizagem sobre como equilibrar a construção de uma base sólida com a exploração de novas fronteiras tecnológicas. Manuel Dias apontou para a importância de adotar um modelo de “duas velocidades”: manter o foco em dados e governança enquanto se experimenta e implementa casos de uso inovadores.

“Não há dúvida de que a IA está a destabilizar os modelos de negócios tradicionais,” afirmou Manuel Dias, citando estudos que mostram que 75% dos funcionários em empresas já utilizam algum tipo de tecnologia de IA. “As organizações que não se adaptarem correm o risco de serem ultrapassadas.”

O Papel da Academia e o Prémio Nobel da IA

O episódio também celebrou um marco histórico: a IA foi reconhecida com o Prémio Nobel de 2024, concedido a Geoffrey Hinton e John Hopkins, pelo trabalho pioneiro em redes neurais. Novais observou que esse reconhecimento é um divisor de águas, elevando a IA ao status de ciência mainstream. “Hoje, a IA é uma comodidade,” afirmou. “Até os nossos alunos já utilizam ferramentas como o Copilot para tarefas diárias.”

Ainda assim, alertou para os desafios éticos e operacionais, como a dependência excessiva de dados limitados ou de baixa qualidade. “É fundamental convergir a IA generativa e a IA analítica tradicional para criar soluções verdadeiramente inovadoras.”

Investimentos em 2025: Infraestrutura e Inovação

Manuel Dias, ao olhar para o futuro, destacou que 2025 será um ano marcado por investimentos maciços em infraestrutura tecnológica, especialmente em data centers projetados para IA. Citando o ambicioso plano da Microsoft de investir 80 bilhões de dólares globalmente, Manuel Dias sublinhou a importância de fortalecer a base computacional necessária para treinar e operar modelos de IA avançados.

“A computação necessária para executar modelos de IA é imensa. Não se trata apenas de criar o modelo, mas de garantir que ele pode ser integrado em aplicações reais e processos de negócios,” afirma Manuel Dias, mencionando a dependência de GPUs da Nvidia para suportar a crescente procura.

Além da infraestrutura, a inovação em produtos continua a ser uma prioridade. De ferramentas como o Copilot até soluções de cibersegurança e low-code, Manuel Dias destaca o investimento contínuo da Microsoft em tecnologias que permitem maior produtividade e eficiência para empresas e indivíduos.

Regulação e o Papel da Europa

A regulação europeia de IA, introduzida em 2024, também foi tema central. Enquanto alguns críticos apontam para o risco de restrições à inovação, Paulo Novais adotou uma visão mais equilibrada: “A regulação pode atrasar o desenvolvimento, mas também traz oportunidades. Se bem aplicada, ela pode transformar a Europa num farol para o uso ético e responsável de IA.”

No entanto, Paulo Novais expressou ceticismo sobre a capacidade da Europa de liderar globalmente sem um aumento significativo nos investimentos em tecnologia. “Precisamos de decisões rápidas e estratégicas para impulsionar as indústrias e garantir que os recursos escassos sejam usados eficientemente,” alertou.

Manuel Dias acrescentou que a conformidade com normas, como o regulamento europeu, já faz parte da estratégia das grandes empresas. Enfatizou que IA confiável e responsável será um dos principais focos de 2025, unindo as áreas de cibersegurança e sustentabilidade.

Tendências de 2025: Multimodalidade e IA Setorial

Ambos os especialistas concordaram que 2025 será marcado pela expansão da IA multimodal, que combina texto, imagem e vídeo em modelos cada vez mais integrados e versáteis. Paulo Novais destacou ainda a importância de criar soluções de IA adaptadas a setores específicos, como têxteis e calçados, áreas de forte presença industrial em Portugal.

“O paradigma dos agentes inteligentes volta a ser central em IA, mas é crucial adaptá-los às necessidades específicas de cada indústria,” disse Novais, que também defendeu uma pedagogia tecnológica para educar empresas sobre como utilizar as ferramentas disponíveis de maneira eficiente e estratégica.

Uma Nova Era de Transformação

Com o pano de fundo de um debate enriquecedor, o Dados à Conversa reafirma a sua relevância ao navegar pelas complexidades tecnológicas que moldam o futuro. Com a IA a prometer ser cada vez mais multimodal e setorial, o podcast oferece uma bússola indispensável para acompanhar os avanços e desafios desta era.