No episódio desta semana do “Dados à Conversa”, Hélder Quintela recebeu Margarida David, Startup Manager da Web Summit, para conversar sobre o estudo “Women in Tech”. Com o Web Summit 2024 iminente, este estudo destacou-se por expor desafios e avanços enfrentados por mulheres no setor de tecnologia e nas startups, um setor onde o equilíbrio de género e a inclusão têm sido alvos de medidas estratégicas. A análise revelou tanto o progresso feito como as persistentes barreiras que afetam a experiência profissional das mulheres, especialmente em posições de liderança e acesso a financiamento.
Margarida David fala da sua experiência com startups e o compromisso da Web Summit em fomentar a diversidade. A executiva salienta que a organização incorporou ações concretas, como selecionar e promover startups fundadas por mulheres, afrodescendentes e outras minorias, garantindo visibilidade a estes grupos historicamente sub-representados. Essa iniciativa não apenas destaca a Web Summit como uma plataforma de diversidade, mas também enfatiza a importância de dar voz às experiências de grupos distintos, criando um ambiente de inclusão.
Margarida David descreve, ainda, como a Web Summit tem um papel de “responsabilidade”, fornecendo um espaço onde startups lideradas por mulheres e outros grupos diversos possam se sentir representados e tenham oportunidade de networking, um passo crucial para democratizar o acesso ao setor tecnológico.
Dados e insights do estudo “Women in Tech”
O estudo “Women in Tech”, conforme descrito neste episódio, explora as perceções e os desafios enfrentados por mulheres na tecnologia. A investigação vai além de estatísticas de género, procurando uma análise qualitativa dos sentimentos e dificuldades relatados por mulheres na área. Margarida David destaca que, embora as condições de trabalho estejam em melhora, mais de 50% das participantes relataram ainda enfrentar sexismo e sub-representação nas suas equipas, dados que surpreenderam pela persistência do problema.
Um ponto central foi a falta de acesso igualitário ao financiamento. Margarida David explica que as startups lideradas por mulheres geralmente recebem menos investimento que as dos seus pares masculinos, muitas vezes devido a uma diferença na abordagem de pitching. Segundo estudos complementares, as mulheres tendem a apresentar previsões financeiras conservadoras, o que, paradoxalmente, leva a resultados mais realistas, enquanto investidores, predominantemente homens, são atraídos por previsões otimistas, perpetuando o viés de género.
Avanços e Iniciativas de Inclusão
Apesar das barreiras, o estudo também sugere que 2024 trouxe melhorias em relação ao ano anterior, com 80% das inquiridas afirmando que há mulheres em cargos de liderança nas suas empresas. Este progresso aponta para o impacto das iniciativas inclusivas. Margarida David menciona, por exemplo, que o teletrabalho tem sido um fator facilitador para muitas mulheres, especialmente mães, que enfrentam o dilema entre carreira e vida familiar. No entanto, o receio de uma possível volta obrigatória ao escritório cinco dias por semana é um ponto de atenção para o setor.
A Web Summit, em resposta a esses dados, intensificou as suas ações para dar suporte a mulheres no setor, como sessões de mentoria específicas para fundadoras e eventos de networking em várias cidades europeias. Margarida David explica que esses encontros proporcionam um espaço seguro e acolhedor, onde as mulheres podem compartilhar as suas experiências pessoais e desafios profissionais, promovendo um ambiente de empatia e apoio mútuo. Essas iniciativas refletem uma abordagem holística, visando criar um “safe space” que combate a sensação de isolamento comummente sentida por mulheres na indústria.
O compromisso com a diversidade
Para o Web Summit 2024, Margarida David antecipa uma edição que continuará a impulsionar startups de mulheres e promoverá mais conexões “significativas” entre participantes de diversas origens. A executiva destaca três startups lideradas por mulheres que exemplificam inovação e propósito social, como a ShearMe e a Natural Nipple, que usam a plataforma do Web Summit para expandir o seu alcance, inclusive para mercados internacionais, como o Brasil.
Este compromisso com a diversidade, segundo Margarida David, é o que transforma o Web Summit numa “plataforma de ligações significativas”, uma verdadeira incubadora de ideias e relações que quebram o estigma do “boys club” que ainda domina o setor. O estudo “Women in Tech” e as ações subsequentes do Web Summit apresentam uma mensagem clara: o caminho para a igualdade de género e a inclusão no setor tecnológico é contínuo, e o impacto positivo passa pela construção de ambientes onde todas as vozes se sintam respeitadas e ouvidas.
O episódio do “Dados a Conversa” enfatiza a necessidade de monitorização constante e de ações efetivas para promover a igualdade de género no setor de tecnologia. A Web Summit, ao destacar as vozes femininas e fomentar o apoio a startups diversas, desempenha um papel crucial na promoção de um mercado mais inclusivo e sustentável. Contudo, os desafios relatados no estudo sublinham que a mudança depende tanto do compromisso das organizações como da participação ativa de todos os stakeholders da indústria.
Esta análise evidencia que iniciativas como o “Women in Tech” são vitais, não apenas para diagnosticar desigualdades, mas também para catalisar soluções que garantam oportunidades equitativas. À medida que o setor tecnológico se expande, o exemplo da Web Summit demonstra que a inclusão não é apenas uma meta ética, mas uma estratégia de longo prazo para a inovação e sustentabilidade globais.