O efeito conjugado dos conflitos existentes no Médio Oriente e na Ucrânia, da crescente tensão na Ásia, das incertezas relativamente à evolução do cenário macroeconómico (a hipótese de uma recessão na economia europeia não está afastada), do crescimento do populismo e do nacionalismo nas eleições europeias, vai condicionar a atividade das organizações nacionais nos próximos 12 meses.
Adicionalmente, questões como a alteração das condições climáticas e a aceleração da transformação digital começa a colocar uma pressão adicional nas organizações a nível mundial.
No território nacional, e apesar de algumas boas notícias – redução da divida pública, excedentes orçamentais, previsões de crescimento da economia suportadas pelo crescimento da atividade turística e das exportações -, o regresso da instabilidade política pode contribuir para condicionar a atividade das organizações nacionais nos próximos 12 meses.
No entanto, e apesar deste cenário, no decorrer de 2024, as organizações nacionais vão prosseguir com os seus investimentos em tecnologias de informação, com o objetivo de aumentar a eficiência e a produtividade dos seus colaboradores, melhorar a eficiência operacional da organização, identificar e reduzir custos de funcionamento e criar condições para a adoção de iniciativas de inovação.
Neste contexto, aqui ficam alguns dos tópicos que vão marcar a agenda dos CIO nos próximos 12 meses.
Aceleração da transformação digital. A importância da transformação digital das organizações foi evidenciada no decorrer da pandemia COVID-19, nomeadamente através da adoção do trabalho remoto, da melhoria da experiência dos clientes (nomeadamente através da implementação de modelos online e self-service) e dos modelos operacionais das organizações (adoção de tecnologias ‘contactless’ nos pagamentos), assim como do reforço da utilização da analítica no negócio das organizações. Os resultados alcançados com as primeiras iniciativas de transformação digital permitiram que as organizações nacionais começassem a adotar estratégias de transformação digital vocacionadas, numa primeira fase, para a melhoria da experiência dos clientes e, posteriormente, destinadas a um conjunto mais alargado de aplicações (digital banking, modernização dos sistemas tradicionais, automatização da cadeia de abastecimento, smart manufacturing, melhoria do atendimento aos cidadãos, gestão de ativos, para citar apenas algumas).
Nos próximos 12 meses, as iniciativas de transformação digital irão continuar a marcar a agenda das organizações nacionais e a impulsionar a despesa com tecnologias de informação.
Generalização da adoção de serviços cloud computing. A adoção de serviços de coud computing é já um dado adquirido na maioria das organizações nacionais. Se, numa primeira fase, resultante da crise financeira e da entrada da Troika no território nacional, as organizações optaram por estas soluções como um meio de reduzir custos de funcionamento, numa segunda fase, marcada pela resposta à pandemia COVID-19, a adoção destas tecnologias foi crucial para a adaptação do negócio das organizações às novas condições de mercado, presentemente, as organizações nacionais encararam estas arquiteturas como um meio de acelerar as iniciativas de transformação digital das suas organizações. Nos próximos 12 meses, este processo vai continuar, nomeadamente através da incorporação de soluções de ‘edge computing’ que irão permitir que a computação seja realizada com maior proximidade dos equipamentos de acesso, assim como através da implementação de soluções de Inteligência Artificial, e de cibersegurança entre outras.
Modernização dos sistemas tradicionais. A adoção de iniciativas de transformação digital das organizações nacionais – adoção de serviços cloud computing, reforço das capacidades analíticas, implementação de soluções de IoT, desenvolvimento de aplicações móveis, melhoria da experiência dos clientes – veio sublinhar a importância da modernização dos sistemas tradicionais. Nos próximos 12 meses, as organizações nacionais vão prosseguir com este esforço com o objetivo de melhorar a capacidade de resposta dos seus sistemas ao negócio das organizações e permitir a continuação da adoção de iniciativas de transformação digital.
Para lá do ChatGPT. A crise da pandemia COVID-19 veio sublinhar a importância das da inteligência de negócio na estratégia de adaptação das organizações às novas condições do mercado, nomeadamente no que diz respeito à adoção de ‘chatbots’ e das linguagens naturais nas plataformas de suporte aos clientes, na utilização de soluções analíticas para prever a procura e dimensionar as cadeias de abastecimento e, no setor da saúde, na gestão dos dados de evolução da pandemia. O sucesso recente do ChatGPT veio contribuir ainda para a democratização do acesso a soluções de inteligência artificial, assim como veio demonstrar as potencialidades destas soluções.
Nos próximos 12 meses, as organizações nacionais irão começar a implementar os seus próprios modelos de IA generativa, nomeadamente em soluções de suporte e de contato com os clientes, na criação de assistentes virtuais e no desenvolvimento de novos ‘chatbots’. É expetável o crescimento exponencial de aplicações baseadas em IA generativa nos próximos 12 meses, tendo em conta o esforço da Microsoft, da Google e da Amazon, entre outras, nesta área.
Trabalho remoto veio para ficar. O trabalho remoto foi uma das principais estratégias adotadas pelas organizações nacionais para dar resposta aos problemas sanitários colocados pela pandemia COVID-19. Ultrapassada a pandemia, a maioria das organizações viu-se confrontada com a necessidade de adotar estratégias híbridas – a qualquer hora, em qualquer local e em qualquer local físico – para os seus colaboradores. Paralelamente, as estratégias de recrutamento das organizações nacionais passaram ainda a incluir a possibilidade de trabalho remoto ou hibrido. Nos próximos 12 meses, as organizações nacionais vão continuar a investir em plataformas de colaboração online, assim como a reforçar as suas iniciativas de cibersegurança (autenticação multifator, soluções descentralizadas de gestão de identidade) e reforçar as soluções de conetividade, nomeadamente através da adoção de tecnologias 5G.
Automatizar é a palavra de ordem. À semelhança do que aconteceu com outras áreas, a pandemia veio alterar profundamente o modo como as organizações se relacionavam com os seus clientes, nomeadamente através da utilização de sites de comércio eletrónico, a adoção de soluções de pagamento ‘contactless’ e de sistemas de self-service. Ultrapassada esta nova realidade, as organizações nacionais iniciaram esforços de automatização dos processos de relacionamento com os clientes com o objetivo de agilizar estes processos, reduzir custos e proceder à integração dos diferentes canais de contato com clientes.
Nos próximos 12 meses, vamos assistir à modernização e reformulação dos sites de ecommerce, à integração de funcionalidades de “comércio social”, à adoção de ‘chatbots’, de assistentes virtuais e de FAQ interativas que incorporam IA generativa nos canais de relacionamento com clientes, assim como à adoção de soluções de analítica preditiva para personalização da experiência dos clientes e ao reforço da integração das experiências ‘online’ e ‘offline’. Iremos ainda assistir a iniciativas de incorporação de tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual na experiência dos clientes.
Reforço da cibersegurança. Impresa, Vodafone, Hospital Garcia da Horta, Sonae, BCP, EMGFA, TAP, Germano de Sousa são algumas das organizações confrontadas com ataques de grande dimensão. Somente no ano passado, o Centro Nacional de Cibersegurança identificou 2.023 incidentes de segurança no território nacional, o que corresponde a um crescimento de 14% relativamente ao ano anterior. Fatores como o aumento do perímetro de segurança das organizações, adoção de estratégias de trabalho híbrido – físico e remoto, contribuíram para aumentar as preocupações com a segurança da informação das organizações.
Nos próximos 12 meses, a cibersegurança vai continuar a ser uma das principais preocupações das organizações nacionais que vão reforçar as suas estratégias de cibersegurança, nomeadamente no que diz respeito à adoção de arquiteturas ‘Zero Trust’, incorporação de Inteligência artificial nestas soluções, reforço da monitorização e deteção de ameaças, implementação de Managed Security Services (MSS), entre outras.
O imperativo do controle de custos. Após anos de crescimento da despesa com tecnologias de informação, em particular devido às iniciativas adotadas no decorrer da pandemia (trabalho remoto, vendas online, soluções de cloud computing, entre outras), a incerteza em redor das condições económicas e políticas veio alterar as perspetivas dos responsáveis das organizações nacionais. Nos próximos 12 meses, as organizações vão privilegiar a redução dos custos de capital e a mudança para despesas operacionais, o que irá privilegiar a adoção de. Modelos as-a-service, a adoção de estratégias baseadas nos resultados para o negócio, em algumas organizações a adoção de estratégia ‘zero budgeting’ de justificação de cada uma das despesas a efetuar, a automatização dos processode TI, assim como a monitorização em tempo real das despesas TI.
Inovação é crucial. Conciliar a necessidade de controlar custos com as tecnologias de informação (TI) e manter a inovação é um dos principais desafios que se colocam aos responsáveis pela gestão destas tecnologias no interior das organizações nacionais.
Nos próximos 12 meses, as organizações nacionais irão começar a colocar no radar algumas tecnologias que poderão vir a ter um impacto a curto prazo nas suas organizações, como seja a adoção de tecnologias 5G, a experimentação de tecnologias de realidade aumentada e virtual, da criação de conteúdos gerados por IA, a integração de tecnologias IA nas iniciativas de cibersegurança, apenas para citar algumas.